Twitter irrita desenvolvedores com banimento de novas aplicações

O Twitter surpreendeu e irritou desenvolvedores ao adverti-los que reduzirá severamente suas possibilidades de desenvolver apps que usem sua plataforma.

O anúncio, feito na lista de e-mails de desenvolvedores do Twitter – o qual, particularmente, não foi repetido ou mencionado no blog da empresa – foi feito por Ryan Sarver, chefe de plataformas e API’s.

O site, que subiu de 48 milhões para 140 milhões de tweets/dia no último ano, e que celebrou seu quinto aniversário na noite do último domingo (13/03), agora afirma que faz preparativos para tomar para si o processo de desenvolver “o melhor cliente” para o Twitter.

A decisão vem após a suspensão temporária, no mês passado, de muitos apps do Twitter por violação dos termos de serviço.

Porém, para as dezenas de apps de terceiros que usam a API do Twitter, e cujo desenvolvimento depende de classificações, pagamentos ou uma combinação de ambos, o anúncio é uma ameaça a sua existência.

Segundo Sarver, “com cada vez mais pessoas entrando no Twitter e acessando o serviço de várias maneiras, uma experiência consistente para o usuário é crucial. Como conversamos em abril passado, essa era nossa motivação ao comprar o Tweetie e desenvolver nosso próprio app oficial para iPhone. É a razão pela qual desenvolvemos apps oficiais para Mac, iPad, Android e Windows Phone, e trabalhamos com a RIM com seu app para Blackberry. Como resultado, as 5 maneiras principais de acessar o Twitter são por meio de apps oficiais”, disse. Ele também afirma que 90% dos usuários ativos usa pelo menos um dos apps oficiais do Twitter mensalmente.

Porém, acrescentou: “O Twitter é uma rede social, e seus efeitos são movidos pelos usuários vendo e contribuindo em suas conversas. Precisamos assegurar que os usuários possam interagir com o Twitter da mesma maneira, em qualquer lugar”. E complementa: “O Twitter fornecerá a primeira experiência oficial do consumidor em celulares, computadores e outros dispositivos pelos quais milhões de pessoas acessam o conteúdo do microblog (tweets, trends, perfis, etc.) e enviam suas mensagens. Se existirem várias maneiras de usar o Twitter, inconsistentes umas com as outras, arriscamos prejudicar a experiência do usuário. Além disso, um grande número de aplicativos violaram por várias vezes os termos de serviço do Twitter, incluindo nossa política de privacidade. Isso ilustra os riscos associados com a terceirização da experiência do usuário Twitter. A empresa precisa retirar, literalmente, centenas de API tokens/apps por semana como parte de nossos esforços de segurança e confiabilidade, protegendo assim a experiência do usuário em nossa plataforma”.

A frase de abertura – “O Twitter fornecerá a primeira experiência oficial do consumidor” – é a que mais causou impacto negativo nos desenvolvedores. Ela sugere que o próprio Twitter tornará a vida dos apps de fora mais difícil; principalmente, ao proibir anúncios em locais de alta visibilidade (usados para custear apps gratuitos, como no caso do Echofon). No tópico “Exibição de tweets em serviços de terceiros”, Sarver acrescenta: “Precisamos garantir que os tweets e ações dentro do microblog sejam transmitidos de forma consistente, para que as pessoas tenham a mesma experiência em todos os lugares. Por exemplo, alguns desenvolvedores usam termos como “comment”, “like”, ou outras palavras nos tweets ao invés das originais “follow, favorite, retweet, reply” – mudando, assim, as funções básicas do Twitter”.

O jeito que a frase foi colocada pode sugerir que um ou mais apps do Twitter usando o serviço conseguiu, de alguma maneira, infringir suas regras – mas é mais provável que a empresa esteja apenas querendo divulgar seus próprios produtos, empurrando os desenvolvedores para outras áreas.

De fato, Sarver disse exatamente isso em outro tweet: “vocês (desenvolvedores) podem continuar a fazer e usar outros apps. Estamos apenas alertando que não é uma boa”.

Em resposta, Eric Mill disse que Sarver não pode mais afirmar que o Twitter seja um ambiente “acolhedor” para os desenvolvedores: “Todos os desenvolvedores independentes do Twitter, não importa o que fazem, estão agora pisando em ovos, em constante risco de ofender as ideias do Twitter sobre como seus usuários devem interagir com sua plataforma”.

Recentemente, o próprio Twitter irritou seus usuários com uma atualização para seu próprio app de iPhone, que inclui um “trending topics” e uma propaganda na barra superior, impossíveis de serem removidos – e bastante indesejados. A barra foi rapidamente apelidada de “Dickbar”, em homenagem ao novo CEO do Twitter, Dick Costolo.

Dave Winer comentou que a nova barra não era tão eficiente quanto anunciar no Google: “Propagandas funcionam para o Google, pois quando você recorre ao site, você está à procura de alguma coisa. É por isso que está lá. Então eles podem te mostrar algo parecido com o que procura, esperando que isso ajude de alguma maneira. Ou, como a maioria das propagandas, pode ser uma distração. Percebemos que gente que dirige BMWs também gosta do café do Starbucks. Não sabemos exatamente o porquê, mas achamos legal lançar nossa nova cafeteria colocando nossos anúncios do lado das procuras por BMWs. Talvez dê certo – ou não”.

O Twitter rapidamente atualizou o app, e mesmo que não tenha removido a barra, tornou-a menos intrusiva.

Porém, para muitos usuários, a “Dickbar” virou um símbolo de como será um mundo onde somente o Twitter poderá escrever seus apps: um mundo sem escolhas, diferente do que aconteceu até agora, no qual qualquer pessoa podia desenvolver aplicativos via API. Isso não deixa os desenvolvedores felizes. Duane Roslands, em sua resposta a Sarver, colocou de maneira mais clara.

“Wow,” escreveu. “‘Obrigado por trazer tanta audiência para o Twitter. Agora suma’. Isso é revolvante.”

Shannon Whitley, outro desenvolvedor, sugeriu a Sarver que volte à empresa e mude sua estratégia dizendo: “Eu compreendo o pensamento por trás dessa estratégia, ‘Devemos controlar o que entra no sistema. Precisamos de X para gerar lucro usando Y’. Nem preciso dizer quão errada esse tipo de atitude é, porém transformou algo pequeno em realidade. De alguma maneira, todo mundo da diretoria esqueceu-se da história fantástica do Twitter, que inovou ao deixar sua API aberta. Esqueceram que o Twitter é uma ótima plataforma de mensagens com potencial ilimitado. Seu potencial é ilimitado, especificamente, porque a inovação feita nas APIs foi ilimitada, até agora. Vocês sabem disso, e eu peço desculpas por repetir, mas poxa, vocês precisam fazer algo a respeito. Precisam voltar à sala de reuniões e falar, ‘Vocês estão errados. Existem muitas maneiras de ganhar dinheiro e continuar o crescimento do Twitter, mas controlar todos os clientes em todas as plataformas é completamente desnecessário e, no fim das contas, prejudicará o crescimento do sistema no longo prazo’”.

Até o momento, não há indícios de que Sarver, ou o próprio Twitter, pensam em mudar de ideia.

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Matheus Molinari

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